Segunda-feira, vinte e um de fevereiro de 2022. Pouco mais das onze horas da noite. Duas pessoas ao celular: o homem na Zona Leste; a mulher na zona Oeste.
Ela:
─ Estou com medo de que haja uma terceira guerra mundial agora, Adilson. Imagine você que eu sonhei na noite passada que Putin tinha invadido a Ucrânia, pelo lado… daquelas repúblicas separatistas, sabe? A Rússia disparava muuuuuuuiiiiiiiiiitas ogivas nucleares na Ucrânia. Depois a Rússia tinha sido atacada pelos Estados Unidos, pela França, Inglaterra. E o Brasil tinha declarado guerra à Ucrânia. ─ a voz agora embargada, quase chorando.
Adilson, com o celular na mesa em viva-voz:
─ Seu sonho foi um pesadelo, na verdade. Mas não se aflija, Mariana. Não vai ter guerra. Quer dizer, pode ser que tenha uma guerra. E depois, se houvesse a invasão à Ucrânia, provavelmente a Rússia usaria os blindados, soldados e talvez os mísseis . Os blindados russos e ucranianos poderiam desencadear um encontro sangrento. Mas não haveria um conflito com armas nucleares. Não vejo assim.
─ Mas eu te falei que foi um sonho.
─ Eu sei, mas só estou ponderando. E depois a gente…
─ Mas você me falou que a Rússia tem mais de seis mil ogivas nucleares. Você acha que a Rússia vai deixar esse arsenal todo guardadinho? Vai que o Putin resolva usá-las, Adilson.
─ Bem… acho que eles só usariam num conflito maior, do tipo de uma ação de revide dos países da OTAN atacando a Rússia. Aí a Rússia poderia disparar essas armas. Mas isso se Putin não tiver apenas blefando por agora.
─ Mas pode ser que ele não esteja blefando, Adilson! E isso pode… pode se tornar em uma guerra, um… um..
─ Um conflito no mínimo no continente europeu. Aliás, a Primeira Guerra Mundial começou com uma guerrinha que seria rápida, de poucos dias. Aquele lance lá: Império Austro-Húngaro invadindo a Sérvia. E zás! A guerra que seria rápida, mas…
─ Durou quatro anos.
─ Exato, minha querida!
─ Então, Adilson! Tem chances de uma guerra de proporções mundiais. Já pensou se o mundo acabar por agora por causa de ataques nucleares? No meu sonho… quase todo o planeta estava sendo devastado por bombas nucleares.
─ Tem chances não. Quer dizer, pode ter uma guerra sim. Mas entre esses dois países. Acho que o Estados Unidos, a própria OTAN não querem entrar numa guerra. ─ fez uma pausa para ouvir a matéria da TV. Apurou a atenção para notícia. Silêncio de quase um minuto.
─ Adilson?
─ Vixi. A Rússia está movimentando tropas em direção à Ucrânia, pelas províncias de Donetsk e Luhansk. Vi agora na televisão. Desculpe-me a demora, Mari. Eu estava apreensivo aqui vendo a notícia na TV.
─ Adilson. Tô com medo de que comece uma guerra sem proporções agora…Terceira Guerra… e acabe sobrando consequências para nós, para o nosso país, sabe? Lembra do que Bolsonaro disse lá na Rússia que ele era solidário ao Putin? Estou tensa, Adilson. Venha aqui? Que tal você vir agora aqui? A gente toma uma birita. Uísque, vinho…menos vodca, claro! O fim do mundo está chegando, Adilson!. ─ deu uma risadinha faceira.
─ Hummm! Já está tão tarde.
─ Tá não. Amanhã é que pode ser tarde. Venha, Adilson! Sabe aquela farofinha que você gosta? Eu faço. A gente toma umas biritas, petisca a farofa.
─ Eu tenho toucinho com pele aqui.
─ Você traz. Eu faço os torresmos. Cê vem? Vamos gozar a vida enquanto pode, Adilson!
Adilson lembrou-se de um poema de Gregório de Matos. Empostou a voz e declamou:
─ “Goza, goza da flor da mocidade,
Que o tempo trota a toda ligeireza,
E imprime em toda flor sua pisada.
Oh, não aguardes, que a madura idade
Te converta essa flor, essa beleza,
Em terra, em cinza, em pó, em sombra, em nada.”
─ Uhu! Que lindo, meu poeta. Venha! Vamos gozar enquanto podemos!
─ Claro! Clarooooo!!
─ Cê vem?
─ Vou. E levo o toucinho para você fazer aquele torresminho, aquela farofinha que só você sabe fazer.
─ Beleza! A gente bebe… et cetera e tal e depois rezaremos pedindo a Deus a paz entre Rússia e Ucrânia…
─ Não! A gente reza antes porque depois a gente estará…
─ Acho melhor depois…
Pausa. Ambos ficaram pensando se o fato de adiarem a oração seria como o comportamento da OTAN ou da ONU que estão demorando em tomar uma ação mais efetiva para evitar a guerra.
Vald Ribeiro
(vald@palavras1.com.br)
kkkkkkkkkkk Eu imagino o interesse da moça para que o Adilson fosse na casa dela! Nem precisa imaginar. A personagem já disse tudo: “Vamos Gozar?”