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O melhor falso francês do mundo

Em Crônicas

27 de janeiro de 2020

O melhor falso pão francês do mundo é o do Rio de Janeiro.  Escrevo falso pão francês porque o pãozinho de sal vendido aqui no Brasil não é nem  aqui  nem  na China, ou melhor,  na  França, um pão francês.  Esta história de chamar nosso pãozinho de sal de “pão francês” remonta ao século 19.  A elite carioca, após passear pela   França, chegava por aqui elogiando um certo   pão de sal   gostoso que existia por lá. Aqui,  descreviam para os padeiros como era o tal pãozinho. Os padeiros, no afã de agradar aos abonados cariocas inventaram ─   mesmo sem  conhecimento pleno da receita   ─   uma baguetinha e   a  chamaram  de pão francês. Percebe-se então que da fórmula francesa nosso pãozinho não tem nada! Nosso pão francês, é falso!

        Como eu ia escrevendo: o melhor falso pão francês do mundo é do Rio de Janeiro. Olha que conheço diversas regiões do Brasil e nunca, nunca de são nunca, encontrei um pão tão gostoso quanto os do   Rio de Janeiro! Deve haver um tempero, um ingrediente secreto que só os padeiros fluminenses usam para fazer este pãozinho ficar tão gostoso assim.

         Não importa onde se deliciar desse manjar. Encantador e mais delicioso  anda é comê-lo em uma padaria e bem de manhã por volta das seis horas em meio ao   alarido de dezenas de pessoas apressadas comprando os farnéis  matinais para  levá-los às     respectivas  residências. Nesse burburinho —   entre saudações e conversas sobre as cenas da novela ou lances do futebol da noite anterior, ou das últimas de Bolsonaro — pedir   um pingado, um  ou  dois pãezinhos bem  amanteigados é  viver  um  dos  momentos  mais deliciosos  e singulares da vida.

        Para incrementar mais ainda o desjejum, convém, antes de sentar-se  ao  balcão ou, se tiver sorte, à  mesinha  da  padaria, comprar  um  jornal na banquinha próxima.  Enquanto espera o café, é bom folhear o jornal ou simplesmente ir passando o olho serenamente pelas  manchetes. Ah! O inebriante e encantador cheiro de jornal! Não tem coisa melhor de manhã do que cheiro de pão  e   de jornal  em  padaria do Rio de Janeiro! E depois desse cheiro, o melhor mesmo é degustar tranquilamente a média e os falsos pãezinhos franceses.

       Sempre que vou ao Rio, dispenso os requintados cafés da manhã no hotel ou  na casa de amigos. Parto, bem cedinho, para qualquer padaria    da Cidade Maravilhosa.  Às vezes, sou mais ousado: pego um ônibus ou uma barca, atravesso a Baía de Guanabara e  vou  a  uma padaria    em Niterói lá  para as  bandas  de Pendotiba ou Caramujo. Tem dias que sou mais audacioso ainda:  dirijo-me   a São Gonçalo. Vou a Neves, Alcântara  e, ultimamente, a uma padaria em uma determinada rua do bairro   Porto da Pedra  para, enfim  fazer meu  desjejum. Descobri que, quanto mais periférico o bairro, mais gostoso é o pão. É por isso que faço tamanho esforço!

       Acho que tenho autoridade para elogiar e fazer apologia a esse pão   porque não sou carioca. Sou um paulista biologicamente baiano. Embora apaixonadíssimo pelo Rio, acho que uso a razão para apenas fazer apologia a este espetacular pãozinho.

       E, por falar em paulista, pode até parecer loucura ou obsessão o que vou  lhe escrever agora:  da próxima  vez  que  for a  São Paulo levarei   alguns  pães  franceses  do Rio, irei direto ao  Mercadão Municipal e pedirei — diplomaticamente   —  a   um  daqueles barraqueiros  de  lanche  para  que  faça um sanduíche  de mortadela com esses pães. Já pensou?  Se sanduíche de mortadela já é  gostoso  com  a pão paulistano, imagine com  o do Rio de Janeiro? Olha, que eu sou tarado  por  pão  com  mortadela  lá do Mercadão de São Paulo   ─  que é um  manjar  dos  deuses! E… com essa nova composição,  acho que  esse tradicional sanduiche paulistano   ficará mais  divino ainda!

Vald Ribeiro

(valdribeiro@folha.com.br)

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