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O sol na cabeça: crítica

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O sol na cabeça: crítica

A literatura empírica de Geovani Martins  

Quem lê o livro “O sol na cabeça”  Geovani Martins, provavelmente terá a impressão de que é alguém que está sentado ao lado desse leitor a contar diversas histórias ambientadas nas periferias do Rio de Janeiro, especialmente nas favelas da cidade. A sensação se tornará mais intensa porque na maioria dos contos a linguagem usada pelo escritor é despojada e  sem a mínima preocupação com a norma culta da nossa língua.  Uma linguagem típica de quem, de forma espontânea, senta-se ao nosso lado para  debulhar diversas histórias  ambientadas em um lugar em que o narrador conhece  muito bem: as favelas cariocas.  

Martins   usou e se lambuzou do skaz, estilo narrativo de origem russa, para compor a maioria dos contos do livro. O skaz é, sem dúvida uma das mais imponentes técnica de narrativa, principalmente quando o escritor pretende conceber uma obra realista. Nessa técnica o   escritor, ao tecer a fabulação, procura se aproximar ao máximo do personagem-narrador em uma  narrativa espontânea e  linguagem coloquial geralmente carregada de gírias e até de palavras de baixo calão. O objetivo é fazer com que a   história apareça sobre a ótica do personagem-narrador, procurando ser fiel à  visão de mundo e  à linguagem característica do estilo de vida  desse.  J. D Salinger a utilizou com esmero no fascinante “O apanhador em campo de centeio” e deu ao famoso romance uma verossimilhança e fruição literária que, provavelmente não teria  se o escritor usasse outra técnica.  

O conto que dá início ao livro é um belo exemplo da técnica: o narrador autodiegético ― aquele que participa também  da história ― vai nos relatando cenas de um passeio feito por alguns adolescentes que saem de uma comunidade  na zona norte do Rio ― zona pobre ―  e vão  até uma  praia na Zona Sul ― área nobre da cidade.  Enquanto o personagem narra a história usando uma linguagem de sintaxe quebrada e recheada de gírias, o leitor vai conhecendo diversos aspectos da favela, da cidade e dos demais personagens do conto. É como se um jovem de poucos estudos  e  nativo da comunidade estivesse sentado ao nosso lado, contado a história. A narrativa nos choca porque fala de adolescentes em situação de risco e, em sua maioria, usuários de drogas cujas ações  parecem ser uma coisa natural.  Enquanto vivem seus momentos de lazer bem diferente dos jovens cariocas da zona sul,  o narrador vai delineando elementos geográficos da periferia, traçando assim um perfil da realidade social desses jovens.  Se trata de um realismo vestido de skaz, em que a realidade da periferia é retratada de forma intensa e provocadora. Assim como esse , os demais contos trazem narrativas  ambientadas nas comunidades do Rio de Janeiro.

Jovens vítimas de preconceito racial e social, pichador, adolescentes vivendo suas primeiras experiencias sexuais e psicotrópicas e a dura realidade que os cercam os são as matérias-primas colhidas por Martins para tecer suas narrativas . O escritor  tirou da invisibilidade literária   do terceiro milênio a realidade social e personagens da periferia.  

Há nesse novo escritor uma característica que o evidencia: a escrita  é empírica — diferente da maioria dos escritores realistas que, ao retratar a realidade, a faz de forma inteligível.  

Um escritor sensível aos problemas sociais pode muito bem escrever sobre um fato, ou uma determinada realidade social apenas pelo inteligível.  Jorge Amado, Aloísio de Azevedo, Rachel de Queirós teciam esmeradamente narrativas  realistas apenas pelas faculdades inteligíveis.  Mesmo não vivenciando in loco,  as respectivas obras atingiram altíssimo grau de verossimilhança e de fruição literária dos quais se tornaram não só obras literárias, mas um retrato de uma época e um meio de denunciar  determinadas realidades sociais vigentes na época.  Giovani traz em seu realismo uma literatura empírica  o que confere à  obra de estreia uma mimese privilegiada e uma verossimilhança  aguçada. O autor de “O sol na cabeça” nasceu e mora na periferia carioca. Oriundo da zona pobre de Bangu  e atualmente morador do morro do Vidigal,  o escritor viveu e sentiu na pele  a realidade das periferias, muitas vezes esquecidas pelo Estado − e até mesmo pela literatura.  

 Geovani Martins estreia na literatura com garbo que nenhum escritor estreante brasileiro conseguiu até hoje. Antes mesmo do primeiro livro ter sido lançado, seis editoras de diferentes países já haviam comprado os direitos autorais para a publicação do livro. Tal glamour, caso único em nossa literatura, nos dá a dimensão da pujança desse noviço na literatura. Vida longa e sucessos ao mais novo e vem bem-sucedido escritor brasileiro! 

Editora: Companhia das Letras;

Tamanho: 112 págs.;

Lançamento: Março, 2018

11 de abril de 2018

Tags: literatura
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