Os estúpidos do Leblon estão agora em finíssimos bares do bairro comemorando a estupidez humana. Nunca a música “Perfeição” de legião Urbana foi tão atual. Vinte e sete anos depois de lançada para que hoje essa música reflita a realidade mais pura do nosso país!
Os estúpidos do Leblon estão felizes! Comemoram como se dissessem a si mesmos: “Vamos celebrar nosso governo/E nosso Estado, que não é nação nação/Celebrar a juventude sem escola/As crianças mortas/Celebrar nossa desunião/Vamos celebrar Eros e Thanatos/ Persephone e Hades/Vamos celebrar nossa tristeza/Vamos celebrar nossa vaidade”, conforme diz a música.
Persephone, lá no Olimpo, deve estar feliz, ao perceber tanta gente dândi e bem perfumada nos bares do Leblon! Hades, o deus da riqueza, do submundo e da morte, deve estar se regozijando pelas comemorações de hoje no Leblon − e em outros bares Brasil afora. Sobretudo, os estúpidos comemoram Thanatos. Os estúpidos nem sabem que louvam agora o deus da morte. Thanatos está feliz! Ele lamenta o aumento de tantas mortes evitáveis? Quantas pessoas já morreram pela covid-19 e quantas ainda morrerão? Quantos desses hoje se contaminarão e poderão descer às sepulturas? Quantos desses hoje irão se contaminar e levar o coronavírus para suas respectivas residências? Um pai amoroso e inocente que seguiu as regras do distanciamento poderá ser contaminado pelo filho ou filha irresponsável que esteve hoje neste evento. Uma mãe que tanto amou o filho ou a filha − que está hoje estupidamente curtindo a vida no bar do Leblon − receberá o presente invisível e mortal. A mãe adoecerá e poderá morrer em decorrência das complicações da covid-19. Morrerá resignada e, decerto, perdoará seu rebento imprudente. Irá para o Além com a tristeza de que o filho ou a filha não a amou o suficiente a ponto de pensar nas consequências do ato descabido desta noite. Quantos desses senhores de cabelos brancos poderão levar o coronavírus para seus respectivos lares? Para filhos, netos, o vizinho, o porteiro do condomínio em que mora, o empregado?
A noite é bela. Uma brisa levemente fria envolve a todos nesta noite do Leblon. Seria mais uma noite romântica e boêmia na Zona Sul não fosse o coronoavírus pululando no ar. Há um quê de macabro na noite de hoje. Um ar apocalíptico. Na verdade, um ar hecatômbico. Uma hecatombe de fim, não do mundo, mas de vidas. Por isso, esta noite no baixo Leblon não é romântica: é macabra…sinistra! E… tantos outros lugares do Brasil estão tal qual o Leblon! Infelizmente!
Bem que hoje estes bares da Zona Sul, e todos os demais bares d que estão abertos agora no Brasil deveriam estar lotados de pessoas comemorando a vitória sobre a covid-19. Depois de dois meses de lockdown… Presidente da República liderando responsavelmente − como faz a primeira-ministra Nova Zelândia − os meios de controle da doença. Mas isso não aconteceu! A irresponsabilidade e o negacionismo (seria só negacionismo?) do Presidente do Brasil incentiva o coronavírus a agir em nosso país e alarga o nosso pesadelo. Agora o prefeito do Rio, tal qual centenas de prefeitos pelo país resolveram ampliar a pandemia: comércio aberto, bares abertos, templos abertos. Ampliaram-se o pesadelo, a temporada de morte instituída pelo Estado! A vida de todos os brasileiros por menos de um fio.
Os estúpidos do Leblon estão felizes! Comemorem, comemorem enquanto podem, estúpidos e inconsequentes do Leblon, porque a covid-19 bate à porta do destino de vocês e dos entes! Comemorem a estupidez de cada um de vocês! Comemorem a estupidez de considerável parcela de políticos de nosso país! Comemorem o aumento da covid-19! E como diria Dado, Bonfá e Russo, diga a cada um de vocês em alto e bom tom: “Vamos celebrar o horror/De tudo isso com festa, velório e caixão”!
Vald Ribeiro