• CAPA
  • Expediente
sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021
Palavras!
  • CAPA
  • Crônicas
  • PoeticaMente
  • Clássicas
  • Amor
  • Política
Sem resultado
Ver todos os resultados
  • CAPA
  • Crônicas
  • PoeticaMente
  • Clássicas
  • Amor
  • Política
Sem resultado
Ver todos os resultados
Palavras!
Sem resultado
Ver todos os resultados
Capa Crônicas
Os suicidas-assassinos

DESENHO: VALD RIBEIRO

Os suicidas-assassinos

Em Crônicas

                ─ Olha lá mais um suicida! ─ disse-me uma senhora de uns sessenta anos que estava, tal qual a mim, prestes a entrar   no banco. Ela mantinha uma distância segura de uns três metros de mim. Eu de máscara; ela também.  Olhei para a direção em que ela apontava. Era uma mulher de uns quarenta e poucos anos que andava tranquila e sem a proteção facial  no outro lado da rua.

                ─ Suicida? ─ indaguei a ela entre um sorriso amarelo.

            ─ Sim. Não só suicida… mas assassina! Você ainda não percebeu que estas pessoas que insistem em não usar máscara são suicidas? Olha mais duas pessoas andando sem máscara! E aquele senhor gordo e com dificuldades de andar deve ser diabético. E tá lá andando sem máscara. Suicida em potencial. Pega o coronavírus e… e… pimba! Morte na certa!

                ─ Realmente. Ele é uma vítima em potencial. ─ respondi.

                ─ Agora reflita aí, meu amigo, se uma pessoa daquela não é suicida! Claro que é. Decidiram morrer! Não tem cabimento. Tem a televisão aí informando toda hora sobre os cuidados para se prevenir dessa doença, tem as rádios, tem cartaz espalhados por aí mandando as pessoas se prevenirem. E aí a gente depara com irresponsáveis como esses aí na rua. Não é por falta de informação não.

                ─ A senhora tem razão. Será que não perceberam que a melhor forma de se livrar da dessa doença são as medidas preventivas?

                ─ E são assassinos. Assassinos de alto potencial… porque um energúmeno como aquele rapaz que tá passando ali sem máscara pega a doença na rua, leva para a família, para a mãe, pai, uma criança o avô, vizinho. Pronto! Contaminam os inocentes! E lá vai esses inocentes pro mundo dos mortos. Eu fico revoltada com uma coisa dessas. Assassinos!  Não se contentam em se matar e ainda querem matar os outros.

                Balancei meio sem graça a cabeça como quem aprovava a ideia. Eu ainda estava aturdido com o ponto de vista radical daquela simpática senhora. Lembrei-me do relato de um médico em um debate de um canal de notícias. Resolvi contar para ilustrar aos argumentos dela:

                ─ Semana passada eu estava assistindo a um programa em que um médico citava  uma jovem  que contraiu o coronavírus e passou para a mãe. A filha  não acreditava na doença. As duas foram internadas na UTI. A mãe não suportou a doença e morreu, logo. A moça durou um pouco mais. Segundo o médico, ela, com voz já fraca, antes de ser entubada chorava pedindo perdão à mãe porque que tinha sido a responsável pela morte dela.  A mãe tinha morrido, mas a filha continuava desesperadamente pedindo perdão… a moça morreu dias depois…

                ─ Olha aí a prova. Tem umas três semanas que o marido da minha prima morreu dessa doença. E ela tá internada  até hoje. Eles são de uma igrejinha que estava se reunindo mesmo com proibição de cultos… e não era pros membros usar máscara não porque a doutrina da igreja dizia que a proteção vinha do alto e não de pano na cara.  Resultado foi esse aí. Já a  igreja em que congrego   teve a responsabilidade de respeitar o isolamento e o uso de máscaras.

                ─ É uma pena que tenha ainda igrejas desrespeitando o isolamento. Não são todas. Mas tem. Infelizmente.  O bom é que estamos fazendo a nossa parte.

                ─ Sim, meu filho.  Continue assim.  E se afaste dos suicidas-assassinos. Olha mais um passando ali pela rua! ─ disse ela amavelmente enquanto entrava no banco, sempre guardando um distanciamento seguro de mim e das demais pessoas.

                Entrei segundos depois. Fiquei pensando seriamente no ponto de vista daquela senhora, no epíteto criado por ela para os humanos que ainda ignoram a pandemia: “suicidas-assassinos”. “Suicidas-assassinos”.  “Suicidas-assassinos”. A palavra macabra reverberando em meu cérebro enquanto me dirigia ao caixa-eletrônico.

Vald Ribeiro

(vald@palavras1.com.br)

14 de julho de 2020

Pin
Anterior

Os estúpidos do Leblon

Próxima

O primeiro morango

RELACIONADOS

Nanoamor
Crônicas

Nanoamor

Imagem: divulgação
PoeticaMente

Novidade na poesia concreta brasileira: a videoantologia “Poesias Multileituras de Paulo Esdras”

Por causa do leite condensado do presidente
Crônicas

Por causa do leite condensado do presidente

O Exército está flopando
Crônicas

O Exército está flopando

A era de aquário começou com a posse de Biden.
Crônicas

A era de aquário começou com a posse de Biden.

O silêncio  do Excelso Presidente da República
Crônicas

O silêncio do Excelso Presidente da República

Próxima
O primeiro morango

O primeiro morango

Deixe uma resposta Cancelar resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  • CAPA
  • Crônicas
  • PoeticaMente
  • Clássicas
  • Amor
  • Política
Política de privacidade - Expediente -

© 2020 Palavras! - TODOS OS DIREITOS RESERVADOS

Sem resultado
Ver todos os resultados
  • CAPA
  • Crônicas
  • PoeticaMente
  • Clássicas
  • Amor
  • Política

© 2020 Palavras! - TODOS OS DIREITOS RESERVADOS