Podem me chamar de otário! Em se tratando de assuntos forenses eu não tenho mesmo habilidades técnicas para entender o desenrolar de uma investigação, nem de avaliar os trâmites legais que envolvem um crime. Por isso, aceitarei humildemente esse tacanho adjetivo. Tenho assistido pela imprensa o lento desenrolar das investigações para elucidar o caso dos assassinatos de Marielle e Anderson. Diante desse crime bárbaro, fico fazendo indagações que, para um bom especialista em assuntos criminais, podem soar como paspalhice da minha parte.
Arrependo-me de não ter feito ao menos o curso de detetive por correspondência daqueles que eram oferecidos nas propagandas de revistas em quadrinhos ─ na minha época de adolescente. Arrependo-me também de não ter feito algum curso de investigação criminal. Se eu tivesse feito esses cursos, provavelmente eu entenderia melhor as ações legais que cobrem este crime, também não estaria fazendo perguntas como: se os acusados de matarem Marielle e Anderson estão presos, por que até agora não abriram o bico para apontar os mandantes desses assassinatos? Por que passados quatro anos do crime ainda não se chegou aos mentores? Diante de tanto material investigativo, por que a resposta não vem? Por que o troca-troca de delegados e promotores?
Afirmam-se que os dois acusados serão encaminhados a júri popular. Embora não tenha data marcada ainda, é uma ótima notícia! E aí surge na minha cabeça ─ sempre inocente das teorias criminalistas ─ um questionamento crucial: como Lessa e Queiroz poderão ir a júri popular sem que as investigações tenham elucidado por completo o crime, sem que haja a resposta essencial? É óbvio que desejamos ansiosamente a punição desses facínoras, mas…vamos pensar um pouco: imaginemos apenas a punição dos dois sem se ter chegado aos mentores do crime. Seria uma justificativa meramente paliativa e amena para a família e a todos nós. E os mandantes? E os MANDANTES?!
Face à minha ingenuidade, fico a indagar sempre se na literatura forense há algum caso em que a investigação é análoga ao dos assassinatos da nossa Eterna Líder Marielle e do Nobre Cidadão Anderson. Também fico indagando se algum escritor de literatura policial já teceu uma história tão controversa como esta que nos aflige há quatro anos. Existirá um enredo fictício cuja investigações e preparo jurídico tenham passado por cinco delegados e três grupos diferentes de promotores? Se existe, será que o leitor acharia verossimilhança literária numa ficção nesses moldes?
Suspeito que nenhum escritor teria a catilogência de criar uma narrativa com nuances surreais como as que envolvem as investigações do caso de Marielle e Anderson. Por falar em ficção, o que devermos é esforçar, avançar na fé e na luta para que a pergunta “Quem mandou matar Marielle?” não transforme numa eterna aporia ─ como aquela de uma antiga novela da Globo: “Quem matou Odete Roitman?”
Vald Ribeiro
(vald@palavras.com.br)
Nota do autor:
Acredito na elucidação do crime e na Justiça. A pergunta “Quem mandou matar Marielle” não ficará sem resposta.
Viva Marielle! Marielle Presente!