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Sobre Marias, Mahins, Marielles e Malês

Sobre Marias, Mahins, Marielles e Malês

Em Crônicas

Vi hoje eu vi um jovem, destes com pinta de burguês e de militante da extrema direita dizendo que “a Mangueira petetizou de vez”. Na visão do jovem conservador, o fato da nossa querida Estação Primeira ter citado no samba-enredo deste ano a nome de Marielle Franco, fazia da escola um reduto do PT. E é aí que reside a ingenuidade e a ignorância do rapaz: ora, se a nossa saudosa ativista social era do Psol, o certo seria   dizer que a escola de Jamelão tinha psolizado de vez.

             Mas para a glória da Escola e a honra de todos nós brasileiros, a Estação Primeira não se partidarizou. Ela sublimemente manteve a tradição de   louvar heróis brasileiros e mostrar a cultura negra — permanecendo assim sempre na vanguarda da elevação cultural e social do nosso país.  Afinal, a Mangueira sempre foi e será a voz do povo. O samba-enredo do ano passado não me deixa mentir: “Somos a voz do povo”, diz um dos versos!

            O que a Mangueira fez, conforme a própria música menciona, foi tirar “a poeira dos porões” e mostrar “A história que a história não conta” e fazer com que a gente ouça “as Marias, Mahins, Marielles, malês”.

 Olha como os compositores Deivid Domênico, Tomaz Miranda, Mama, Marcio Bola, Ronie Oliveira e Danilo Firmino conseguiram sintetizar tantas heroínas em apenas um verso! E não foi só para aproveitar a assonância a que eles acrescentaram “malês” para finalizar: foi para mostrar para o mundo um dos  mais ousados levantes negros de nossa história ocorrido em Salvador, liderando por negros de origem islâmica  em 1835 que queria proclamar uma  república  igualitária no Brasil. Infelizmente, a revolta foi sufocada pela elite; e ainda é sufocada por muitos livros de história. Nesta revolta,  se destacou uma mulher negra citada no verso: “Mahins” — Luiza Mahin  —  uma feminista a abolicionista negra que participou dessa revolta e que era mãe de um dos maiores intelectuais negros do Brasil: Luiz Gama:  poeta, jornalista, advogado  e lutador pelo fim da escravidão: Luiz Gama.

            As Marias, podem ser a escritora negra maranhense Maria Firmina dos Reis, que em 1859 escreveu  o primeiro romance abolicionista da história do Brasil. Podem ser  escritora negra Carolina Maria de Jesus, que era catadora de papel em São Paulo na década de 60 que  e escreveu uma das mais importantes obras na nossa literatura, o romance  “Quarto de Despejo”.

            As Marias também podem ser a Maria Felipa de Oliveira, marisqueira e ex-escrava que em 1823, em Itaparica,  participou ativamente da guerra para consolidar a independência do Brasil ao comandar grupos de pessoas da região  para  atacavam os portugueses que ainda resistiam à independência. Conta-se que ela lutou bravamente ao liderar pelotões de nativos para expulsão dos lusitanos. Em uma destas investidas, Maria Filipa e mais de 40 mulheres simularam seduzir um grupo desses lusitanos e, quando esses chegaram ao local combinado para a sedução, ela e as demais mulheres  espancaram os portugueses  com uma planta que causa forte ardores na pele, o cansanção, conseguindo dominá-los e marcar mais uma vitória, dentre tantas,  sobre os  inimigos.  Outra Maria também participou ativamente da luta apela independência: a famigerada  Maria Quitéria. Essa figura na historiografia; detalhe era branca.  

            Marielle, homenageada no belo verso da samba-enredo, é mais uma destas heroínas que, mesmo com a repercussão causada pelo assassinato, poderá ser mais uma dessas heroínas preteridas pela história elitista. A Estação Primeira nos leva a uma importante reflexão: quantas heroínas negras, quantos heróis negros foram ou ainda serão escamoteados da história  oficial?

  Quantas revoltas sociais serão ainda suprimidas da história só porque foram lideradas por negros, ou por mulatos ou índios  — como grande movimento de resistência indígena à opressão portuguesa ocorrida entre 1554 a até 1567 na faixa litorânea entre Bertioga a Cabo Frio; como a Confederação dos Cariris, ocorrida no Ceará entre 1683 e 1713 pelos mesmos motivos dos tamoios? Esses dois movimentos de resistência também são mencionados na letra: “E a tua cara é de cariri”.

Você precisa ouvir e prestar atenção na letra, na erudição e beleza deste samba! E por falar em beleza e erudição, sinta só este verso: “A liberdade é um dragão no mar de Aracati”. Os magníficos gênios que conceberam esta letra mais uma fizerem uma composição grandiosa: homenagearam ao mulato Francisco José do Nascimento, um dos grandes guerreiros na luta pelo fim da escravidão no Ceará no século 19. E o “dragão do mar de Aracati” une dois elementos: O apelido dado a Francisco, Dragão do mar”, e à cidade onde ele nasceu: Aracati também no Ceará.

A beleza e a erudição não terminam aí. Veja só estes versos: “Salve os caboclos de julho/Quem foi de aço nos anos de chumbo”. Referência aos heróis mulatos na luta pela independência da Bahia (que Maria Filipa participou). E, nos “anos de chumbo, provavelmente, a escola remete ao negro Osvaldão, um dos baluartes da Guerrilha do Araguaia. Também pode ser uma referência ao negro Antonio Carlos Santos Silva, um paulista que foi um dos mentores do Grupo de teatro Evolução que saiu pelo Brasil tentando desmistificar o mito de democracia racial. Ou quem sabe é uma referência a todos que fizerem a resistência à ditatura militar.

E a Mangueira nos diz que nosso país é Dandara… e quem é ela senão a líder feminista e guerreira lutadora no Quilombo Palmares, a esposa de Zumbi? Oh! Que a Escola, e nós brasileiros, sejamos todos  Dandara… Marielles, Mahins, Marias… Malês! Despertemos para o samba da Mangueira  porque a

“A Mangueira chegou

Com versos que o livro apagou

Desde 1500 tem mais invasão do que descobrimento

Tem sangue retinto pisado

Atrás do herói emoldurado

Mulheres, tamoios, mulatos

Eu quero um país que não está no retrato”

Vald Ribeiro

Publicada em 06 de março de 2019

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