SONHOS DE VIRGEM.
A M.***
I.
Que sonhas, virgem, nos sonhos
Que à mente te vem risonhos
Na primavera inda em flor?
No celeste devaneio,
No doce bater do seio,
Que sonhas virgem? – amor?
Que céus, que jardins, que flores,
Que longos cantos de amores
Nos lindos sonhos te vem?
E quando a mente delira,
E quando o peito suspira,
Suspira o peito – por quem?
Sonhando mesmo acordada,
Pendida a fronte adorada
Num cismar vago e sem fim;
Do olhar o fogo tão vivo,
A voz, o riso lascivo,
O pensamento é – por mim?!
II.
Quando tu dormes tranqüila,
Cerrada a negra pupila
E o lábio doce a sorrir;
Então o sonho dourado
Nas dobras do cortinado
Vem esmaltar teu dormir!
Oh! sonha! – Feliz a idade
Das rosas da virgindade,
Dos sonhos do coração!
– Puro vergel de açucenas
Ou lago d’águas serenas
Que estremece à viração!
Feliz! Feliz quem pudera
Colher-te na primavera
De galas rica e louçã!
Feliz oh! flor dos amores,
Quem te beber os odores
Nos orvalhos da manhã!
Rio – 1858.
Casimiro de Abreu: Primaveras
04 de março 2019